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Dor orofacial em números: QST e algometria que orientam a clínica

Dor orofacial em números: QST e algometria que orientam a clínica
Editora Sia

Na odontologia, decidir com precisão entre dor muscular, pulpar, neuropática ou pós-operatória é tão crítico quanto executar a técnica correta. A boa notícia: hoje é possível quantificar a dor com ferramentas acessíveis e padronizáveis. Os testes sensoriais quantitativos (QST) e a algometria digital colocam números onde antes havia apenas impressão. O resultado é uma prática clínica mais segura, com menos retratamentos e maior confiança do paciente.

O que é QST e como isso chega à cadeira

QST (quantitative sensory testing) é um conjunto de testes padronizados que medem limiares e respostas a estímulos controlados: pressão, vibração, frio e calor. Na clínica odontológica, os recursos mais práticos incluem:

  • Algometria de pressão: mensura a pressão (em kgf ou N) que desencadeia dor em músculos mastigatórios, ATM e pontos de referida. Útil para diferenciar dor miofascial de outras fontes.
  • Vibração: avalia a sensibilidade mecânica em regiões de dor ou parestesia (pós-trauma ou pós-cirurgia), identificando alterações neurossensoriais.
  • Termoestímulos: dispositivos Peltier ou pontas térmicas controladas testam frio e calor, úteis em triagens de hipersensibilidade dentinária, dor pulpar e parestesias.

Você não precisa de um laboratório: um algômetro digital confiável, um vibrador clínico com intensidade graduada e um módulo térmico portátil (quando disponível) já permitem montar um protocolo efetivo.

Por que medir muda o desfecho

  • Diferenciação diagnóstica: limiares de pressão reduzidos em masseter e temporal sugerem dor miofascial; hiperalgesia térmica localizada pode direcionar a investigação pulpar; hipoestesia ou alodinia vibrotátil orienta suspeita neuropática.
  • Monitoramento: repetir medidas ao longo do tratamento mostra resposta real à terapia, ajustando carga de exercícios, medicação e necessidade de encaminhamento.
  • Comunicação: números e gráficos ajudam o paciente a entender o plano, aderir e valorizar o cuidado, com menos disputas sobre “melhora subjetiva”.

Um protocolo de 15 minutos para começar

  1. Briefing e segurança (2 min): verifique contraindicações para estímulos térmicos em pacientes com alterações sensoriais significativas ou crises de dor aguda descompensada. Explique a escala de 0 a 10 para dor evocada.
  2. Algometria de pressão (6 min): avalie masseter (porção superficial), temporal anterior, região periarticular da ATM e um ponto controle contralateral assintomático. Aplique pressão crescente e contínua (≈1 kgf/s) até relato de dor. Registre três leituras por ponto e calcule média.
  3. Vibração (3 min): em áreas com parestesia/desconforto, aplique vibração em intensidades crescentes; peça o limiar de percepção e de desconforto. Compare com lado oposto.
  4. Frio/Calor (4 min): quando indicado, use ponta térmica controlada ou protocolo padronizado de frio. Registre limiar de desconforto e tempo de recuperação.

Dica de consistência: mantenha a mesma ordem, mesmos pontos anatômicos e a mesma taxa de incremento de estímulo. Isso garante dados comparáveis ao longo das consultas.

Cenários clínicos onde QST e algometria brilham

  • Dor miofascial versus dor odontogênica: limiares de pressão reduzidos e dor referida ao pressionar masseter/temporal sugerem origem muscular. Evita intervenções dentárias desnecessárias.
  • Parestesia ou dor neuropática pós-procedimento: alterações em vibração e temperatura ajudam a documentar e acompanhar a recuperação sensorial, além de embasar encaminhamentos.
  • Hipersensibilidade localizada: hiper-resposta ao frio com recuperação rápida aponta mecanismos periféricos; respostas prolongadas sugerem sensibilização que requer abordagem mais ampla.
  • Pós-operatório: acompanhar limiares de pressão e dor evocada ajuda a distinguir inflamação esperada de evolução atípica.

Boas práticas que evitam erros

  • Taxa de aplicação constante: pressão aplicada rápido demais subestima o limiar. Treine a equipe para atingir uma cadência estável.
  • Documentação detalhada: registre ponto anatômico, mão utilizada, taxa de incremento, valores individuais e média. Fotografe marcações quando necessário.
  • Controle de viés: cegue o paciente para o valor no display do equipamento e use linguagem neutra para não induzir respostas.
  • Higiene e biossegurança: capas descartáveis, limpeza entre pontos e atenção a áreas com pele sensível ou feridas.

Como integrar os dados ao plano de tratamento

Medir sem interpretar não gera valor. Considere:

  • Curvas de progresso: reduções de 20–30% nos limiares de dor evocada ao longo de 2–4 semanas costumam refletir resposta clínica consistente. Ajuste intervenções conforme o ritmo de melhora.
  • Combinação de achados: dor evocada muscular alta + hiperalgesia térmica localizada pode apontar componente odontogênico sobreposto a tensão muscular. Planeje em camadas.
  • Encaminhamento oportuno: padrões neuropáticos claros (alodinia ao toque leve, hipoestesia persistente) justificam avaliação especializada mais cedo, evitando escaladas desnecessárias.

Treinamento e segurança do paciente

Implemente um mini-treinamento interno com simulações e checklists. Estabeleça critérios de pausa imediata (aumento abrupto de dor, tontura, mal-estar) e protocolo de registro de intercorrências. Em condições sensoriais instáveis, priorize medidas conservadoras e reavalie com o paciente confortável.

Fluxo enxuto para seu dia a dia

  • Sala pronta: algômetro carregado, ponteiras higienizadas, ficha de pontos anatômicos impressa.
  • Ritmo previsível: QST básico sempre antes de intervenções potencialmente dolorosas e nas revisões-chave (ex.: 1, 4 e 12 semanas).
  • Feedback ao paciente: mostre a evolução em gráfico simples. Isso reduz ansiedade, melhora adesão às orientações e valoriza o acompanhamento.

Resultados que impactam a clínica

Com QST e algometria você:

  • Reduz retratamentos motivados por diagnóstico impreciso.
  • Alinha expectativas com evidências objetivas e linguagem clara.
  • Cria um histórico mensurável que embasa auditorias, intercorrências e comunicação multiprofissional.

Tratar dor orofacial é mais do que empatia e experiência. É método. Quando você mede, decide melhor. E quando decide melhor, o paciente sente a diferença.

Por que levar isso ao seu software clínico? Registrar valores, gráficos e observações padronizadas torna a informação útil e acionável. Com dados bem organizados, você transforma números em condutas consistentes.

Siodonto na prática: organizar e acompanhar dados sensoriais fica simples quando o prontuário permite campos customizáveis, anexos e evolução gráfica. O Siodonto entrega isso com fluidez e, de quebra, ainda melhora o relacionamento com o paciente: o chatbot cuida de confirmações e orientações de preparo, enquanto o funil de vendas ajuda a conduzir cada caso do primeiro contato ao plano fechado, sem perder oportunidades pelo caminho. É o tipo de suporte digital que libera tempo para o que mais importa: cuidar com precisão.

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