Carga imediata com critério: ISQ, torque e densidade que decidem
A carga imediata deixou de ser uma aposta para se tornar uma decisão clínica amparada por dados. Quando ISQ, torque de inserção e densidade óssea entram na mesma conversa, o implantodontista ganha previsibilidade, reduz intercorrências e comunica melhor o plano ao paciente. Este artigo propõe um protocolo objetivo que combina esses três pilares, com um escore prático que cabe no seu fluxo de trabalho.
Por que integrar ISQ, torque e densidade?
Cada métrica ilumina um aspecto diferente da estabilidade do implante:
- Torque de inserção: captura a estabilidade primária durante a instalação (força necessária para rosquear o implante). Limiares clínicos comuns: ≥45 Ncm (alta), 35–44 Ncm (moderada), <35 Ncm (baixa).
- ISQ (Resonance Frequency Analysis): reflete a rigidez do conjunto implante-osso. Pontos de corte usados na prática: ≥70 (alta), 65–69 (moderada), <65 (baixa).
- Densidade óssea: estimada no planejamento, via CBCT e experiência clínica (classificação D1–D4). Embora valores absolutos de HU variem entre equipamentos, a tendência relativa orienta condutas.
Isoladas, essas medidas podem enganar. Juntas, fornecem uma fotografia confiável da condição de ancoragem, ajudando a decidir entre carga imediata total, provisória descarregada ou cicatrização sem carga.
O escore 2-2-2: simples, rápido e reprodutível
Some pontos conforme a melhor situação observada em cada dimensão:
- Densidade óssea: D1–D2 = +2 | D3 = +1 | D4 = 0
- Torque de inserção: ≥45 Ncm = +2 | 35–44 Ncm = +1 | <35 Ncm = 0
- ISQ: ≥70 = +2 | 65–69 = +1 | <65 = 0
Interpretação do total (0 a 6):
- 5–6 pontos: candidato a carga imediata funcional (unitária ou múltipla). Em segmentos posteriores com múltiplos implantes, a solidarização protética agrega segurança.
- 3–4 pontos: carga imediata seletiva, com provisório sem contato oclusal (estética e suporte de tecido) e reavaliação precoce.
- 0–2 pontos: sem carga (cicatrização), com controle clínico e escalonamento para carga tardia.
Ajustes de contexto: paciente sistêmico, uso de enxertos simultâneos, zona estética e hábito parafuncional podem deslocar a conduta uma casa na direção da prudência.
Fluxo clínico em cinco passos
- Planejamento pré-operatório
- Análise de CBCT para estimar densidade e espessura cortical; selecione macrodesign compatível (roscas agressivas em D3/D4, estratégias de subpreparo em osso macio, perfurações graduais em D1/D2).
- Defina expectativa de carga conforme o escore previsto e alinhe com o paciente.
- Instalação e medição padronizada
- Registre o torque de inserção final (dinamômetro calibrado) e anote eventual discrepância entre perfuração planejada e realidade (p. ex., mudança no diâmetro por resistência óssea).
- Meça o ISQ com smartpeg compatível, repetindo leituras em duas direções e registrando a média.
- Compute o escore
- Soma rápida 2-2-2 e definição da estratégia de carga (funcional, seletiva sem oclusão ou sem carga).
- Em casos limítrofes (4 pontos), prefira provisório descarregado e reavaliação precoce.
- Provisionalização e controle oclusal
- Para carga funcional, ajuste oclusão com contatos pontuais e distribuídos; em múltiplos implantes, priorize passividade e solidarização.
- Para carga seletiva, garanta zero contato em MIH e excursões.
- Seguimento e reavaliação
- Repetir ISQ com 2, 6 e 12 semanas pode revelar a “curva de osseointegração”. Quedas discretas iniciais seguidas de recuperação são esperadas; quedas persistentes indicam cautela.
- Foto e documentação sistemática facilitam comparação e tomada de decisão.
Erros comuns e como evitá-los
- Confiar em um único parâmetro: torque alto em osso muito denso com cortical espessa não garante estabilidade biológica a médio prazo. Cruze dados.
- Instrumental não calibrado: dinamômetro desregulado e smartpeg reutilizado além do recomendado distorcem a leitura.
- Perfuração sem estratégia: subpreparo excessivo em D1/D2 induz microfraturas; subpreparo insuficiente em D3/D4 prejudica a inserção. Ajuste o preparo ao biótipo.
- Oclusão descuidada: um provisório “carimbando” em MIH pode comprometer um caso limítrofe. Verifique em articulador ou com papel de 40 µm.
- Desconsiderar o contexto sistêmico: tabagismo, diabetes descompensado e uso de bifosfonatos pedem protocolos mais conservadores.
Como documentar para aprender (e explicar melhor)
Registre, de forma estruturada, densidade estimada (D1–D4), torque, ISQ, macrodesign, diâmetro/comprimento, tipo de provisório e condição oclusal. Fotos intraorais e imagens do medidor de ISQ ajudam a educar o paciente e a padronizar a equipe. Com o tempo, seu banco de casos cria faixas de referência por região anatômica, reduzindo dúvidas em cenários limítrofes.
Checklist rápido para a sua próxima instalação
- Plano A/B definido conforme densidade prevista.
- Dinamômetro aferido e smartpeg correto à mão.
- Registro do torque final no prontuário.
- ISQ medido em duas direções e média anotada.
- Oclusão verificada com meta clara (funcional ou zero contato).
- Agenda de reavaliação com marco para nova leitura de ISQ.
Conclusão
Carga imediata é uma decisão clínica que fica mais segura quando a emoção sai de cena e os números entram. Integrar ISQ, torque e densidade em um escore simples torna o protocolo replicável, facilita a comunicação com o paciente e dá previsibilidade ao cronograma protético. Um pequeno investimento em padronização rende grandes dividendos em estabilidade e tranquilidade.
Dica extra para o seu dia a dia: usar um software que registre automaticamente torque e ISQ por dente/implante, crie gráficos de evolução e anexe exames agiliza o raciocínio e protege a sua documentação.
No fechamento, vale falar de ferramenta: o Siodonto foi pensado para o consultório que quer somar ciência e organização. Ele permite registrar parâmetros como torque e ISQ com facilidade, anexar seu CBCT e fotos, comparar casos e padronizar protocolos. Além disso, traz um chatbot que atende seus pacientes de forma inteligente e um funil de vendas que nutre cada oportunidade até a cadeira. É a junção de prontuário ágil, comunicação fluida e captação consistente — um combo que libera seu foco para a clínica e multiplica suas conversões.