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Biossensores intraorais: pH e temperatura que guiam sua clínica

Biossensores intraorais: pH e temperatura que guiam sua clínica
Editora Sia

A odontologia vive uma virada silenciosa: além de imagens e impressões digitais, dados fisiológicos do próprio ambiente bucal começam a guiar condutas. Biossensores intraorais – discretos, adesivados ao dente, acoplados a alinhadores ou inseridos em placas finas – medem parâmetros como pH, temperatura e tempo de exposição ácida ao longo do dia. O resultado é uma prevenção mais assertiva e escolhas de materiais melhor embasadas, tanto em pacientes de alto risco quanto na rotina comum.

O que são e como funcionam

Biossensores intraorais são microdispositivos que registram, em intervalos definidos, variáveis do meio bucal. Os modelos mais comuns:

  • Adesivos dentários inteligentes: finos e discretos, fixados em superfície lisa (geralmente em molares). Podem medir pH e temperatura.
  • Placas/aligners com sensores: incorporam o sensor ao dispositivo, úteis para monitoramento contínuo em ortodontia ou bruxismo.
  • Protetores intraorais instrumentados: para janelas curtas de coleta (24–72 h), com alto conforto.

Os dados são armazenados localmente e sincronizados, via leitor ou app, ao prontuário. O que interessa clinicamente não é cada leitura isolada, mas padrões: quanto tempo o pH fica abaixo de 5,5, quantos eventos ácidos por dia, picos térmicos após bebidas quentes, e como isso se distribui na semana.

Quando vale a pena usar

  • Erosão e cárie de alto risco: pacientes com consumo frequente de bebidas ácidas, atletas que usam isotônicos, ou histórico de lesões de mancha branca recorrentes.
  • Suspeita de refluxo gastroesofágico: picos ácidos noturnos podem reforçar encaminhamento médico e orientar proteção do esmalte.
  • Xerostomia: tempo prolongado em pH crítico pode expor a necessidade de medidas salivares e ajustes de dieta.
  • Ortodontia: em alinhadores, o sensor ajuda a mapear risco desmineralizante e engajar higiene e rotina alimentar.
  • Hipersensibilidade dentinária: correlação entre episódios ácidos/variações térmicas e sintomatologia.

Da leitura ao plano: protocolo prático

  1. Triagem e consentimento: explique objetivos, tempo de uso (24–72 h) e cuidados. Documente orientação e aceite.
  2. Instalação: posicione o sensor em superfície limpa e seca, evitando áreas de mastigação intensa. Verifique conforto e retenção.
  3. Diário simples: peça que o paciente marque, no app ou em um papel, eventos-chave (refeições, bebidas ácidas, exercícios, episódios noturnos). Isso ajuda a correlacionar dados.
  4. Coleta e sincronização: ao retorno, baixe os dados e gere um sumário: tempo total em pH < 5,5, número de eventos ácidos/dia, maior queda de pH, variações térmicas.
  5. Conversa clínica: mostre gráficos simples, relacione com o diário e estabeleça metas (ex.: reduzir eventos ácidos vespertinos, espaçar exposições, reforçar higiene no pós-lanche).
  6. Intervenções: escolha medidas personalizadas: fluoretos de alta concentração, selantes em fóssulas de risco, vernizes remineralizantes, orientações de bochechos neutros pós-exposição ácida, saliva artificial, mudanças de hábitos.
  7. Materiais sob medida: em pacientes com muitos minutos/dia em pH crítico, priorize sistemas adesivos e resinas com maior resistência à degradação, controle rigoroso de umidade e protocolos de polimerização consistentes.
  8. Reavaliação: repita o sensor após 4–8 semanas para medir impacto. Use o comparativo para ajustar condutas.

Decisão de materiais baseada em dados

Ver o “tempo em risco” muda a conversa clínica. Alguns exemplos práticos:

  • Adesão: em contexto de desafio ácido frequente, protocolos de etch-and-rinse exigem controle finíssimo de umidade. Se isso não for viável, um self-etch bem executado pode oferecer maior previsibilidade.
  • Proteção de esmalte: selantes em fossas e fissuras com verniz de flúor na mesma sessão ganham prioridade quando o paciente acumula mais de 60–90 minutos/dia em pH < 5,5.
  • Resinas: evite margens subgengivais em pacientes com xerostomia e alto desafio ácido; prefira desenhos que facilitem controle de biofilme e manutenção.
  • Recalls: ajuste periodicidade de manutenção com base na curva de risco real, não apenas no “perfil” do paciente.

Limitações e cuidados

  • Interferências: alguns cremes dentais e enxaguantes podem alterar leituras de curto prazo. Oriente pausas breves antes do registro.
  • Conforto e adesão: sensores devem ser imperceptíveis. Teste o posicionamento e tenha um protocolo de troca rápida se houver descolamento.
  • Calibração e validação: use dispositivos com documentação técnica e suporte. Compare resultados iniciais com achados clínicos para calibrar sua interpretação.
  • Não é diagnóstico isolado: o sensor complementa exame, anamnese e imagem. Decisões continuam clínicas.

Ética e comunicação com o paciente

Transparência é fundamental: explique o porquê do monitoramento e como os dados serão usados para proteger dentes e restaurações. Evite tom punitivo sobre hábitos; foque em metas alcançáveis e comemore melhorias entre uma coleta e outra. Pacientes entendem melhor o plano quando veem o próprio gráfico de pH – e isso eleva adesão.

Comece pequeno, meça grande

Inicie com um grupo de alto risco (hipersensibilidade recorrente, histórico de erosão, uso de alinhadores) e estabeleça um fluxo simples: indicação, instalação, coleta, relatório e reavaliação. Quantifique desfechos (redução de manchas brancas, menor sensibilidade, menos trocas de restaurações) e documente o valor agregado. Com a equipe treinada, expanda a indicação para prevenção em adolescentes, gestantes e pacientes polimedicados com xerostomia.

O que vem pela frente

A tendência é integrar múltiplos sensores (pH, temperatura, umidade e fluxo salivar estimado) a algoritmos que preveem risco diário e sugerem condutas. Há também desenvolvimento de biossensores para marcadores específicos, o que pode aproximar ainda mais a odonto do cuidado sistêmico integrado. Enquanto isso, aplicar o que já existe – com protocolo enxuto e comunicação clara – já traz ganhos concretos.

Dica final: dados só viram valor quando organizados e usados na conversa clínica. Um bom prontuário digital facilita a interpretação, compara períodos e transforma curvas em decisões simples para você e para o paciente.

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